Roda de Santa Rita celebra 50 anos do álbum em que ‘Madame Lee’ mordeu o ‘Fruto proibido’ e engoliu o machismo
Por ter cinco cantoras como vocalistas, grupo carioca se afina com o tom feminino do disco de 1975. Ilustração de Rita Lee (1947 – 2023), musa que inspirou ...

Por ter cinco cantoras como vocalistas, grupo carioca se afina com o tom feminino do disco de 1975. Ilustração de Rita Lee (1947 – 2023), musa que inspirou a criação da Roda de Santa Rita Reprodução / Instagram Roda de Santa Ria ♫ ANÁLISE ♪ “Mulher é bicho esquisito / Todo mês sangra”, caracterizou Rita Lee (1947 – 2023) em Cor de rosa choque, música composta pela artista em 1979 para ser o tema de abertura do programa TV Mulher (Globo), marco do feminismo na televisão brasileira. Sintomaticamente, rosa é também a cor que envolve a foto da cantora e compositora na capa do álbum Fruto proibido (1975), o segundo e mais emblemático dos quatro discos feitos por Rita com o grupo Tutti Frutti. Por completar 50 anos em 2025, o álbum Fruto proibido vem sendo celebrado desde janeiro com shows e eventos. Hoje, 17 de maio, a Roda de Santa Rita sobe ao palco do Kingston Club, no Rio de Janeiro (RJ), para festejar com show as cinco décadas desse disco em que Rita Lee cantou a liberdade feminina na batida do rock. E o que Rita fez há 50 anos foi proeza não somente no universo masculino do rock, mas em toda a música brasileira, visto que, até então, somente uma mulher, Joyce Moreno, havia composto música sob ótica feminina e sofrido julgamentos severos da intelectualidade carioca por ter apresentado em festival de 1967 música que trazia escrito “meu homem” em um dos versos. Na época, Rita Lee já fazia a revolução tropicalista com Os Mutantes quando o trio se juntou a Gilberto Gil em outro festival daquele ano de 1967. Mais tarde, a partir de 1979, bafejada pelos ventos da abertura política que sopravam na música brasileira, Rita explicitaria cenas de amor e sexo nas letras do cancioneiro composto com Roberto de Carvalho, parceiro de cama, música e banheira de espuma. Quatro anos antes de virar a mania do Brasil, a artista enfrentou a censura de país brutalizado pela ditadura e deixou a moral de quatro com o ato de morder o fruto proibido naquele álbum gravado em abril de 1975 com repertório que se tornaria um greatest hits da fase roqueira da artista com o Tutti Frutti. Daí que o tributo da Roda de Santa Rita tem tudo a ver porque o grupo carioca – criado há dois anos, em maio de 2023, para celebrar o legado de Rita Lee, então recentemente falecida – é formado por cinco cantoras de idades e formações distintas. Se Andréa Cals já contabiliza seis década de vida, Sofia Mattos ainda vai fazer 20 anos. Juntas, Andréa, Sofia, Beatriz Napolitani, Nina Castro e Val Becker certamente carregam no corpo e na alma marcas e vivências femininas que darão sentido adicional ao canto de músicas libertárias como Agora só falta você (Rita Lee e Luiz Carlini), Dançar para não dançar (Rita Lee) – rock que cita a bailarina e coreógrafa norte-americana Isadora Duncan (1887 – 1927) nos versos “Faça como Isadora / Que ficou na história / Por dançar como bem quisesse” – e Pirataria (Lee Marcucci e Rita Lee, 1975). Se o álbum Fruto proibido permaneceu tão atual e relevante ao longo desses 50 anos, resistindo às modas e mutações da música brasileira, é muito pelo fato de Rita Lee ter hasteado a bandeira da liberdade sob prisma feminista sem apelações ou panfletos. Rita foi contra a moral machista da época ao reacender a chama da dançarina naturista Dora Vivacqua (1917 – 1967) em Luz Del Fuego (Rita Lee) e ao se permitir encarnar uma Eva maliciosa e mordaz na música-título Fruto proibido (Rita Lee). Sem falar em Ovelha negra, hino geracional que tematizou a rebeldia de uma filha contra o status quo representado pelo pai. Os músicos da Roda de Santa Rita formam um time masculino, mas quem abre as asas e solta as feras e vozes – para citar versos de um rock das Frenéticas, Perigosa (1977), que trouxe a assinatura de Rita Lee – são as cinco mulheres vocalistas do coletivo. Por isso não provoque, é cor-de-rosa choque... Roda de Santa Rita faz show hoje, 17 de maio, no Kingston Club, no Rio de Janeiro, para celebrar o álbum de 1975 Rogério Von Kruger / Divulgação